É um oráculo muito antigo cujos princípios básicos foram inventados ao que parece, há cerca de três mil e quinhentos anos. Ele pode ser usado de duas formas: uma, mais contemplativa, quando seus elementos servem de suporte a uma reflexão sobre a constituição do universo; e a outra, de natureza prática, em que o oráculo é consultado com vistas a se compreender uma situação particular e a saber como se deve agir nessa situação. O livro já atingira sua forma atual na época de Confúcio (551-479 a.C.). É constituído por uma série de sessenta e quatro hexagramas, figuras compostas por meio de seis linhas, contínuas ou interrompidas (como podem ver na imagem abaixo). Supõe-se que, em seu conjunto, esses hexagramas representem todas as situações possíveis. Cada hexagrama é acompanhado por um texto curto, com frequência metafórico, e existe sobre eles um enorme volume de comentários que se acumularam ao longo dos séculos. Alguns deles, em geral atribuídos a Confúcio ou a seus discípulos diretos, passaram a integrar a obra clássica.
O oráculo é consultado construindo-se o hexagrama linha por linha, de baixo para cima, a partir de um sistema que faz intervir o acaso - o mais comum é a manipulação de 49 bastonetes, tradicionalmente hastes de milefólio. O hexagrama assim obtido é lido no mesmo sentido em que foi construído. Ele se compõe de dois trigramas , isto é, de dois grupos sobrepostos de três linhas, cada um dos trigramas representando o que denominaríamos uma "força" ou uma tendência constituída do universo. Por sua vez, as linhas (contínuas ou interrompidas) representam os dois princípios básicos, o yin e o yang. A obtenção do hexagrama pode orientar dois tipos de linhas: linhas fixas, chamadas de jovem yin ou jovem yang, e linhas móveis, ou seja, linhas que assumem um valor contrário ao que tinham na origem, o velho yin móvel transformando-se em yang e o velho yang, em yin. Isso gera um segundo hexagrama associado com o primeiro.
Trata-se, é claro, de apenas uma entre tantas abordagens possíveis. Ela reflete necessariamente as particularidades do autor, suas preferências conscientes ou involuntárias - por exemplo, a constatável preferência por uma leitura "taoista"dos textos, que tende a exprimir os conselhos morais em termos objetivos, assim como uma desconfiança com relação a especulações abstratas ou a especulações que envolvem uma concepção dualista (opondo o espírito à matéria, o bem ao mal, o homem ao mundo, ou mesmo "o interior" psicológico ao "exterior" objetivo). Trata-se de opiniões ou de formas de ver. Não nasceram da prática do I Ching, mas encontraram nela uma grande consolidação. O fato de, na maioria das vezes, se apresentarem sem precauções oratórias não significa de modo nenhum que se atribua a elas um valor absoluto. O sistema do I ching é suficientemente universal para que todos os ramos de pensamento possam abordá-lo, desde que não se limitem a simples preconceitos e sejam suscetíveis de um constante aprofundamento.
No I ching, o que importa não é tanto a interpretação feita, mas o próprio hexagrama, sendo necessário voltar sempre a essa base essencial.
[Trecho retirado do livro "I Ching - Princípios, prática e interpretação" do autor Jean-Philippe Schlumberger]